Todos
os dias, nós homens escutamos o que e como devemos ser. Desde
crianças existem regras claras impostas pela sociedade. Não estão
escritas na Constituição, mas elas se perpetuaram entre as gerações
de boca a boca, um estigma sobre o outro.
Meninos
NÃO PODEM:
*Ter
“voz fina” (aguda);
*Usar
rosa ou tons similares;
*Brincar
de “casinha” ou com bonecas;
Meninos
PODEM:
*Beijar
o mais rápido possível;
*Transar
o quanto antes;
*Brincar
de trabalhar, de esportes, de correr;
E
isso porque nem falamos dos homens, porque segundo esse código,
adultos têm ainda mais trabalho: eles devem manter a casa e a
família financeiramente, mas estão livres dos deveres de casa (isso
é para meninas/mulheres), homens são o alicerce e portanto não
podem chorar, não podem conversar sobre suas dores, devem ser
fechados, nunca conversam sobre sentimentos. São sérios. Amam
futebol. Sempre sob controle. Intimidadores. Estão sempre procurando
sexo. Nunca se abraçam.
Essas
são algumas dos vários muros que surgem para impedir o exercício
de uma masculinidade saudável. Pois, estamos sendo observados,
julgados, e como se não bastasse reproduzimos esses estigmas sobre
os homens e meninos ao nosso redor. O feminismo luta pela igualdade
entre homens e mulheres. O movimento LGBT luta pelo respeito a homens
gays, bissexuais, travestis e transsexuais. E tudo isso retorna à
somente um ponto: MASCULINIDADE TÓXICA.
Outro
dia estava lendo um texto sobre o assunto e em como ele precisa ser
imediatamente discutido. Nossos meninos estão se tornando homens
doentes, fechados e violentos. Porque o machismo afeta diretamente
homens e mulheres.
Dentro
de casa meu pai não permitia que eu cruzasse minhas pernas, ele não
concordava que eu deixasse meu cabelo crescer, minha mãe me forçava
a ter amigos homens (porque eu andava somente com meninas na escola),
dormir na casa deles, jogar futebol (e não, “praticar esportes”),
mandavam engrossar a voz, ficar sem camisa sempre. E isso era uma das
coisas que mais me constrangiam: FICAR SEM CAMISA. Eles me forçavam
para que eu tirasse, porque estava calor e todos os outros meninos
estavam sem. Hoje, ainda tenho receio de tirar a camisa, não me
sinto confortável depois de tanto brigar com eles para permanecer
com ela.
Entre
esses e outros atos de opressão, que na cabeça deles me ajudariam a
ser homem, construindo minha masculinidade, só me mostrou o que não
quero, nem como devo ser. Sei como isso me diminuiu como homem, como
ser humano, por ser afeminado e lutar contra isso todos os dias.
Porque segundo essa sociedade nojenta ser gay não é ser homem.
Até
recentemente, escutei em casa: “Para de ficar desmunhecando, não é
coisa de homem”, ou algo parecido. Continuei no exercício de
“desmunhecar” imediatamente. Alguns elementos deixam de ser
somente parte da minha identidade e tornam-se armas em uma luta. Luta
por homens que saibam que são seres humanos. Que choram, riem,
demonstram afeto, respeitam. Que são homens por amar e serem amados,
que constroem uma carreira, uma família, do lado de outros homens ou
mulheres. Homens que são gente. E gente sofre. Pronto.