segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

MASCULINIDADE TÓXICA

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
Todos os dias, nós homens escutamos o que e como devemos ser. Desde crianças existem regras claras impostas pela sociedade. Não estão escritas na Constituição, mas elas se perpetuaram entre as gerações de boca a boca, um estigma sobre o outro.

Meninos NÃO PODEM:

*Ter “voz fina” (aguda);
*Usar rosa ou tons similares;
*Brincar de “casinha” ou com bonecas;

Meninos PODEM:

*Beijar o mais rápido possível;
*Transar o quanto antes;
*Brincar de trabalhar, de esportes, de correr;

E isso porque nem falamos dos homens, porque segundo esse código, adultos têm ainda mais trabalho: eles devem manter a casa e a família financeiramente, mas estão livres dos deveres de casa (isso é para meninas/mulheres), homens são o alicerce e portanto não podem chorar, não podem conversar sobre suas dores, devem ser fechados, nunca conversam sobre sentimentos. São sérios. Amam futebol. Sempre sob controle. Intimidadores. Estão sempre procurando sexo. Nunca se abraçam.

Essas são algumas dos vários muros que surgem para impedir o exercício de uma masculinidade saudável. Pois, estamos sendo observados, julgados, e como se não bastasse reproduzimos esses estigmas sobre os homens e meninos ao nosso redor. O feminismo luta pela igualdade entre homens e mulheres. O movimento LGBT luta pelo respeito a homens gays, bissexuais, travestis e transsexuais. E tudo isso retorna à somente um ponto: MASCULINIDADE TÓXICA.

Outro dia estava lendo um texto sobre o assunto e em como ele precisa ser imediatamente discutido. Nossos meninos estão se tornando homens doentes, fechados e violentos. Porque o machismo afeta diretamente homens e mulheres.

Dentro de casa meu pai não permitia que eu cruzasse minhas pernas, ele não concordava que eu deixasse meu cabelo crescer, minha mãe me forçava a ter amigos homens (porque eu andava somente com meninas na escola), dormir na casa deles, jogar futebol (e não, “praticar esportes”), mandavam engrossar a voz, ficar sem camisa sempre. E isso era uma das coisas que mais me constrangiam: FICAR SEM CAMISA. Eles me forçavam para que eu tirasse, porque estava calor e todos os outros meninos estavam sem. Hoje, ainda tenho receio de tirar a camisa, não me sinto confortável depois de tanto brigar com eles para permanecer com ela.

Entre esses e outros atos de opressão, que na cabeça deles me ajudariam a ser homem, construindo minha masculinidade, só me mostrou o que não quero, nem como devo ser. Sei como isso me diminuiu como homem, como ser humano, por ser afeminado e lutar contra isso todos os dias. Porque segundo essa sociedade nojenta ser gay não é ser homem.


Até recentemente, escutei em casa: “Para de ficar desmunhecando, não é coisa de homem”, ou algo parecido. Continuei no exercício de “desmunhecar” imediatamente. Alguns elementos deixam de ser somente parte da minha identidade e tornam-se armas em uma luta. Luta por homens que saibam que são seres humanos. Que choram, riem, demonstram afeto, respeitam. Que são homens por amar e serem amados, que constroem uma carreira, uma família, do lado de outros homens ou mulheres. Homens que são gente. E gente sofre. Pronto.