No primeiro dia do ano de 2011, ainda em clima de réveillon,
alguns familiares e eu voltamos à uma das praias de Vila Velha, no Espírito
Santo, onde, horas antes, havíamos comemorado a chegada do novo ano. Afim de
dar continuidade ao proveito daquele dia especial, fomos curtir o litoral da
cidade e seus prazeres.
Alguns preferiram ficar nas barracas se refrescando com
bebidas e sorvetes. Outros, os mais jovens, escolheram tomar sol e banho de
mar. Este tinha águas verdes que, aliadas ao forte calor, convidavam para um
mergulho. Atendi o chamado e, junto com um primo, entrei no mar. De início,
fiquei na parte rasa em respeito ao imponente oceano. Porém, ali, com muita
areia que se impregnava em minha pele a cada vez que as ondas quebravam,
resolvi avançar um pouco mais. Me livrei da areia, mas o que passou a incomodar
foi o arrebentar das ondas em meu corpo, o que me deixava instável e me fazia
tomar os chamados “caldos”. Novamente, avancei um pouco mais buscando maior
conforto ao banhar-me naquela imensidão. O que os meus olhos alcançavam era
somente uma partícula do imensurável Atlântico. Ora essa! O que aconteceu com
aquele meu respeito inicial a exorbitância do mar? Por algum motivo ficou pelo
caminho.
Falando nele, o chão de incalculáveis grãos de areia
molhada , de repente, não foi mais sentido por meus pés. Sim, me livrei da areia,
do quebrar das ondas, mas... As ondas... Elas iam e vinham como quem não quer
nada. E, em uma dessas vindas eu avancei mar a dentro, desta vez, não por vontade
própria. Fiquei, figurada e literalmente, sem chão. Me debatia desesperadamente a
fim de encontrá-lo até afundar a primeira vez. Atabalhoadamente consegui
emergir. Foram pouquíssimos segundos de esperança, pois consegui ver o meu
primo Junior que estava por perto no momento. Aflita, tentei chamá-lo, no
entanto, só consegui gritar a primeira sílaba antes de ser novamente engolida e
engolir, muita, muita água salgada.
Esse foi, sem dúvida, um dos momentos mais difíceis da
minha vida, o fim dela parecia iminente quando algo me puxou para cima. A
primeira sílaba berrada foi o suficiente para o Juninho tentar me socorrer, mas
sua força não bastava para me livrar do afogamento. Sob pena de também ser asfixiado
e perder a vida, ele precisou desistir de mim. A agonia, então, continuava e, ainda
mais desesperada, dei de cara com a morte. Um suspiro, outrora tão pouco
valorizado por mim, era tudo que eu precisava. Meu sistema respiratório já
queimava e eu me encontrava em um tenebroso “beco sem saída” onde minhas únicas
e cruéis opções eram prender a respiração ou aspirar água cheia de sal.
Minha capacidade de pensar e ter qualquer tipo de
reação já havia desaparecido, era o fim. Parecia que o mar não havia gostado de
eu o ter desrespeitado. Meu algoz era gigante demais para que eu o vencesse.
Perdi... Não, espera. No fim, que não foi o fim, inacreditável! Algo me reergueu.
Quatro braços fortes me elevaram, desta vez, definitivamante. Eram os
salva-vidas, que me permitiram dar o tão desejado suspiro. Respirar, sentir o
calor do sol, tocar o chão, a areia seca... viver nunca foi tão bom!